PELEJA
Finalmente era chegado
O momento da peleja
Que do povo agoniado
Calaria toda queixa
Porém, se o Mago falhasse
E o tal do bando escapasse
Só lhe daria tristeza.
Em cordel não há medida
Pra falar o que se deve
Se é verdade ou é mentira
Mais vale como se escreve:
E assim lutou o Maguinho
Que mesmo estando sozinho
Calou o Bando dos Sete!
A PELEJA COM SERRA GRANDE
(A BALEADEIRA INVOCADA)
Sabendo que era um gigante
Difícil de se abater
Primeiro foi Serra Grande
Quem achou de aparecer
pensando, feito um jumento,
Que tamanho é documento
Na hora do “vamo ver”.
Quando olhou para o Maguinho
Do outro lado da estrada
Seu rosto abriu um sorriso
Pensando que era piada
E pra ferir o coitado
Achou que bancar o brabo
Naquele instante bastava:
“— Sou mais forte que Golias
Tu num pode me vencer
Maguinho “fí” de uma égua
Se prepare pra morrer
Pois tu não passa dum cisco
E pra se bater comigo
Devia ao menos crescer!”
Sem sair de onde estava
O Maguinho respostou:
“— Eu sou da ponta virada
Virado no "estopô"
Amigo de Virgulino
Devoto de Pade Ciço
Com força, fé e fervor”
“— Não venha com seu discurso
Que aqui não é palanque
Acerte logo seu prumo
Pois meu nome é Serra Grande
Comigo é que o laço aperta
A cobra pia, o cão berra
E o rico morre de fome!
Minha fama é conhecida:
Se mexer comigo até
Urubu cospe carniça
E pobre enjeita filé
Não sobra nem a carcaça
E o cabra bebe cachaça
Pensando que é café...”
Sou cabra que mata a fome,
Com urtiga em vez de pão
Não tenho medo da morte
De gente ou bicho-papão
O Cão pode ter “dez chifre”
Mas eu faço dele um bife
Na ponta do meu facão!”
“— Serra Grande, não se espalhe!
Escute o que vou dizer
Pois toda essa pabulagem
Agora eu vou desfazer
Atente na profecia:
Se Davi matou Golias
Eu hei de matar você.”
Dito isso abaixou-se
Pegou um seixo no chão
Lisinho feito uma uva
Redondo feito um limão
Botou na baleadeira
Fez uma mira certeira
E disparou o rojão
O tiro saiu zunindo
Feito bala de canhão
Raspou o vão duma casa
Da sala até o oitão
Torou em dois um facheiro
E uma pedra no meio
Rasgou que nem papelão
Pegou na testa suada
Do gigante que, na hora,
Mijou-se todo nas “calça”
Com a lapada venenosa
Dobrou por cima dos joelhos
Depois esfregou o queixo
Por onde se esfrega a cobra
Ali ficou estirado
Depois de muito ciscar
Com um olho arregalado
Que nem deu tempo fechar
E pra completar o feito
O Mago, no seu direito
Com jeito foi provocar:
“— Abaixo de Deus, o resto;
Acima de Deus, ninguém!
Pois que venha o bando inteiro
Pra eu mandar pro além
Do jeito desse bandido
Que achava que era sabido
Mas viu que eu era também!”
A PELEJA COM CURURU
(O FUNIL QUE DESENCHE)
Resolvido Serra Grande
Era a vez de outro safado
Cururu, sapo danado,
Que foi logo ignorante
E disse: “— deixe comigo
Que esse Mago vadio
Daqui não segue adiante!”
Sem mais ninguém entre os dois
Correram pra se enfrentar
E o que aconteceu depois
É certo, vai espantar
Até quem muito já viu
De assombração já fugiu
Ou gosta de engambelar:
O Maguinho, disparado,
Correu, mas não descuidou
Já o Sapo, atrapalhado
Num galho seco topou
Caiu por cima da banha
E numa queda medonha
Inteiro se esparramou!
Virou de perna pra riba
Deu sete voltas no ar
E quando veio de cima
Não pôde mais levantar
Ficou ali estirado
Dizendo: “— cabra safado,
Tu fez eu escorregar!”
O Mago vendo naquilo
Uma grande ocasião
Lembrou-se de outra arma
Passada por Lampião:
O tal funil que “desenche”
Mais um sagrado presente
Que logo botou na mão
Chegou pela retaguarda
Do malvado carniceiro
Pegou pelo cós da calça
Abaixou até o joelho
Virou o cabra na marra
E como um tição em brasa
Meteu-lhe o funil no rego
A dor foi tão desgramada
Que o cabra ficou zarolho
E já não sentia nada
Do pé até o pescoço
Apenas olhou pro Mago
E disse: “— cabra safado,
Me arrebentasse o ferrolho!”
O funil, feito uma tromba,
Mais longa que um trabuco
Meteu-se com tanta sanha
Nas entranhas do xibungo
Que quase lhe arranca a alma
De tanto que lhe varava
Igual um poço sem fundo
Cururu secou ligeiro
Ficando ali estendido
Sem um pingo de recheio
Pior que um saco vazio
Tão triste foi o negócio
Que até as “bola dos óio”
Rolaram no meio-fio.
E assim foi que o vilão
Encontrou sua desgraça
Ficando somente a casca
Por cima da armação
Mais esticado que um pau
Mais seco que bacalhau
Esparramado no chão!
A PELEJA COM “NOVE DEDO”
(O CHOCALHO DO BOI GREGO)
Muito cheio de soberba
Nove dedo foi chegando
Vermelho igual a bandeira
Que trazia como manto
Tamanha era sua raiva
Ao ver que o Mago matava
Um a um, todo seu bando
Nessa hora, novamente
Padre Ciço e Lampião
Surgiram na sua frente
Por meio de uma visão
Querendo lhe aconselhar
Pro Mago poder passar
Por mais essa provação
E assim, se revezando
Cada um na sua fala
A ele foram contando
Toda a sorte de desgraça
Que sempre que teve vez
O comunismo já fez
Por todo canto que passa:
“— Comunista fala muito
Porém, não sabe escutar
Por isso parece surdo
Mas basta lhe cutucar
Naquilo que ele não gosta
Pra lhe deixar sem resposta
Sem ter como se safar
Por isso tome o chocalho
Do boi que perdeu a musa
E use nessa disputa
Pra não ser atraiçoado
Pois esse som é bravio
E todo cabra vadio
Se perde nesse badalo!”
E o leitor não se espante
Se eu disser que se passou
Com o triste meliante
Justamente o que falou
Padre Ciço e Lampião
Depois da grande lição
Que o nosso herói escutou.
E provou que aprendeu
Pois logo que balançou
O chocalho, já notou
Que o barbudo estremeceu
Botando pra reclamar
Que não queria escutar
O badalar que se deu
Pois a cada badalada
Do chocalho abençoado
O bandido se “alembrava”
Do mal que tinha causado
E ouvia dentro da mente
A voz de cada inocente
Por ele desencarnado.
O fim desse condenado
Foi o mesmo de quem passa
A vida inteira pecando
Plantando só a desgraça
Até que chega uma hora
Que quando a justiça cobra
Quem deve, sempre lhe paga!
E o peso da culpa é tanto,
Pelo mal que foi causado
Que os joelhos vão dobrando
Até que o pobre coitado
(Que achava que Deus não via
E não lhe castigaria...)
Vê logo que estava errado!
Assim foi com Nove Dedo,
Que achava, muito iludido,
Que nunca ia ser punido
Pelo mal que tinha feito
Mas, agora acuado,
Perdido e agoniado
Sentia dentro do peito
Uma culpa tão pesada
Que implorava por perdão
Diante daquelas almas
Que surgiam em procissão
Trazidas pelo chamado
Daquele santo chocalho
Que o Mago tinha na mão
Por isso, nessa agonia
Querendo acabar com aquilo
O bandido arrependido
Sem ver mais outra saída
Só teve uma solução:
Pegou do próprio facão
E fez do ouvido bainha!
Deu seu último suspiro
Pedindo perdão a Deus
Negando que era ateu
Pra não enfrentar castigo
Do jeito que sempre é
Comuna, que só tem fé
Na hora em que está perdido!
Quando tudo terminou
O Maguinho foi guardar
A arma que lhe ajudou
Novamente a triunfar
Mas inda faltava chão
Pro fecho dessa missão
Poder, enfim, alcançar!
A PELEJA COM MARIANÃO
(O CHICOTE DE TRIUNFO)
Marianão foi chegando
Com a zanga dum tufão
Ao Mago só desejando
Levar de vez pro caixão
Depois de descer a faca
Naquilo que mais faltava
Pra sua transformação...
Só que o Mago já sabia
Que quem tinha essa ambição
No mundo só aprendia
Se tivesse uma lição:
Que era levar chibata
Comprida e muito bem dada
Até perder a noção!
Por isso, com o chicote
Que o careta tinha dado
Foi logo botando abaixo
Pra mostrar como era forte
Três véia raparigueira
Um bando de cangaieira
E dez “machinho” de coque
Aquela coisa parida
De cobra com jacaré
Sequer arredou o pé
Pois era muito atrevida
Mas esse foi, justamente,
O erro que, brevemente,
A vida lhe custaria...
O Mago veio de um lado
A bruxa veio de outro
E o povo virava o rosto
Pra não ver o resultado
Do chicote folião
Batendo contra o facão
Que tantos tinha capado!
Quem ia ficar por cima?
Qual seria o resultado?
A arma cortante e fria
Ou o chicote abençoado?
Não tinha como dizer
E quando se foi saber
Quem viu ficou engasgado!
Pois no fim da confusão
Que a poeira se assentou
Somente um corpo ficou
Largado naquele chão
E como não era o Mago
Foi logo o povo tomado
Por grande satisfação!
Nem um doido apostaria
Que daria o que se deu
Mas nessa briga esquisita
O aço foi que perdeu
Trazendo fama ao chicote
E junto com ela a morte
De quem lhe desmereceu:
A bandida mais safada
Que o sertão já conheceu
Agora estava acabada
Por obra e graça de Deus
A quem muito cabra macho
Por ela ter se lascado
Sorriu e agradeceu
Essa noite no inferno
Até quenga deu de graça
Com Marianão se achando
A rainha da cocada
(mas deixe, que Lampião
Já tinha dito pro Cão
Assar seu lombo na brasa!...)
A PELEJA COM DIABO COXO
(O GIBÃO DESVIADOR)
Era a vez de Diabo Coxo
Mostrar sua serventia
Vingando toda quadrilha
Que morria pouco a pouco
E mal desceu do cavalo
Já foi direto pro Mago
Jogando seus “desaforo”
O Maguinho nem ligava
Não tinha tempo a perder
Sabia que era bravata
Nem valia responder
Melhor ouvir seus padrinhos
Soprando no seu ouvido
Que logo iria vencer
Pois tava tudo na mão
Não tinha por que arregar
Só devia confiar
E botar logo o gibão
Pra`quela alma sebosa
Tomar o rumo da cova
Por bem de todo sertão
Diabo Coxo era lento
Com a presa amarrada
Pois isso lhe dava tempo
De fazer quanta desgraça
Quisesse sem se entreter
Somente pelo prazer
De ver o mal que causava
Mas se a briga era arrochada
Virada na correria
Conforme sempre fazia
Metia o dedo na arma
Gritando desesperado
E atirando pro lado
Que a sua venta virava
E esse foi o seu plano:
Sem dizer nem a que vinha
Botou o Mago na mira
E foi logo disparando
Sentou o dedo sem pena
Porém, no meio da cena,
Notou que estava falhando...
Disparou uns doze tiros
De pistola e espingarda
Mas não fez nem um chapisco
No Mago, que só levava
O tranco, mas não caía
E quem olhava dizia
Que o bicho comia bala!
Mas a prenda encantada
Que ganhou de seus padrinhos
É que muito funcionava
Não deixando nem um tiro
Triscar no couro do Mago
Que assim estava fechado
Guardado e bem protegido!
Já o traste do aleijado
Não podia acreditar
Que estava todo encarnado
Sem nem o Mago atirar
Pois cada tiro voltava
E quando lhe acertava
Fazia logo sangrar!
E o herói, sem fazer troça,
Uma bala atrás da outra
Foi tomando, mas a roupa
Mandava tudo de volta
Pra todo povo assistir
E ver o vilão sair
Dali direto pra cova!
Diabo Coxo, caiu duro
tremendo e perdendo a cor
E quando ficou escuro
E nada mais enxergou
Vazando por doze bicas
O que restava da vida
Ao Mago ainda falou:
“— Maguinho, cabra safado
Tu não vale um tostão!
Se tivessem me contado
Que tu tinha esse gibão
Não tinha me afobado
Podia ter escapado
Pra não morrer como um cão!
No final pediu a bênção
A seu mestre, Satanás
Que todo bandido trás
Por santo de devoção
E finalmente morreu
Se afogando no breu
Da sua própria ambição...
Do jeito que Padre Ciço
Tinha dito aconteceu;
Assim como Virgulino,
Que também lhe prometeu:
Pro Mago deu tudo certo
Enquanto mais um perverso
Para o inferno desceu!
A PELEJA COM SUSANO PAPO MANSO
(O PIÃO DE SUCUPIRA)
Como era falador
Metido a filosofeiro
Papo Manso foi ligeiro
Querendo ser o doutor
Porém sua falação
Naquela situação
De nada lhe adiantou:
“— Bom negócio fez o Diabo
(Assim disse, muito esperto)
Pois sabia que o errado
Nesse mundo ia dar certo
E veja como acertou!
Pois hoje quem tem valor
É quem não vale um tareco!”
Dito isso, o Maguinho
Logo veio a responder
Já sabendo o caminho
Que devia escolher
Pra`quele traste escutar,
Mas sem se deixar levar,
Desanimar ou correr:
“— Nisso eu até concordo
Com vossa filosofia
Mas esse nunca foi modo
De gente ganhar a vida
Somente fazendo o mal
Achando que é o tal
Tramando na covardia
E quem desse jeito pensa
Vai ver que pensou errado
Pois quando chegar o dia
Em que for sentenciado
A morte vai se mostrar
E quando o cabra notar
Já foi do mundo riscado!”
Papo Manso foi ligeiro
Contra o Mago lutador
Espalhando aquele cheiro
De quem nunca se banhou
Mexendo sempre na barba
Que era a grande morada
Dos bichos que lá cevou
Mas isso pouco contava
Que o Mago tinha o pião
Que como um raio girava
Valente como um tufão
Tivesse um desse em Angico
É certo que Virgulino
Não tinha tombado em vão!
Começara a peleja
Do Mago com o falador
Que, como sempre, mandou
A bicharada ligeira
Pra cima do nosso herói
Mas sendo o Mago veloz
Tratou de não dar bobeira:
Agarrou logo o pião
Entalhado em sucupira
E mesmo sem fazer mira
Botando efeito na mão
Puxou de vez a ponteira
Fazendo tanta poeira
Que até cobriu a visão!
O bicho saiu zunindo
Parecia uma cigarra
Correndo dentro da praça
Que nem um redemoinho
Deixando quase sem fala
O povo que se espantava
Diante do seu zumbido
O pião, sem descansar,
Criou um muro de vento
Que ligeiro foi crescendo
Parando os bichos no ar
De jeito que a ninhada
Foi sendo toda cercada
Sem ter por onde escapar
Até mesmo Bonifácio
Encolheu as suas asas
E meteu-se numa casa
Com medo de ser levado
Porque o vento era tanto
Que até avião passando
Podia ser derrubado!
Papo Manso apavorou-se
Tremendo que só chocalho
Igual a quem perde a pose
Depois de cantar de galo
E quando pensa em correr
É só porque não quer ver
O quanto já está lascado!
Mas bandido nunca nega
Sua eterna covardia:
Na hora do pau, arrega
Na hora da peia, chia
Provoca, mas não encara
Nem honra o que tem na calça
Pior que quenga vadia!
Foi assim com o tal Susano
Na hora da confusão:
Queria sair voando,
Mas quando veio o tufão
De vento trazendo bicho
No meio do rebuliço
Não teve mais salvação!
Levado no mesmo bolo
Perdido e sem direção
Ciscou de um lado pro outro
Querendo voltar pro chão
Mais foi girando no ar
Até o vento parar
O só restar o pião...
Criador e criaturas
Sumiram sem deixar rastro
Porém, nem tudo foi culpa
Do pião abençoado
Pois teve gente que viu
No meio do rodopio
O fim do cabra safado:
Tomado de agonia
Gritando de desespero
Sem rumo nem paradeiro
Cercado por suas crias,
Que enquanto rodopiavam
Inteiro lhe devoravam,
paravam e depois morriam.
Quem trabalha com afinco
Sabe bem o que é lutar
E o prazer de descansar
Depois do dever cumprido
Por isso, tendo o pião
Cumprido sua missão
Tirava agora um cochilo...
O Maguinho recolheu
Essa peça valiosa
De que, nessa dura prova
De coragem, se valeu
Fazendo sumir do mundo
Mas um meliante imundo
Que teve o que mereceu!
A PELEJA COM WALDISGLEYSON
(O BACAMARTE DE PRINCESA)
O sangueiro inda corria
Levando ladeira abaixo
Num rio todo encarnado
O bando que se perdia
Porém sabia o Maguinho
Que seu maior desafio
Agora é que enfrentaria!
Pois sendo o mais trapaceiro
Desgraçado e desumano
Foi somente Waldisgleyson
No fim, que acabou sobrando
Sentindo que essa era a hora
De dar um fim nessa história
Vingando todo seu bando
Mas justo quando pensava
Ser a sua perdição
De uma velha oração
Que diziam que ensinava
Lampião para o seu bando
O Mago foi se “alembrando”
Enquanto se preparava:
“— Que Jesus não me abandone
Na hora da precisão
Fazendo valer seu nome
Sobre toda a criação
Porque não importa as “arma”
Só vale mesmo é o cabra
Que sabe honrar os culhão!
Tem hora numa batalha
Que só Deus pode ajudar
Com sua divina graça
Quem dele não duvidar
Por isso, que ele me acuda
E nessa hora mais dura
Não deixe de me guardar!”
Tomado assim de coragem
Avançou contra o bandido
Que ficou tão ofendido
Diante da valentia
A ponto de provocar:
“— Se eu hoje não lhe matar
Não vou ganhar o meu dia!”
Até o povo escondido
Saiu pra testemunhar
O que, se tivessem dito,
Ninguém ia acreditar:
Que pela mão do Maguinho
Aquele infame bandido
Não tinha como escapar!
Pois o Mago se mexia
Mais liso do que sabão
Ligeiro que nem ladrão
Dobrado feito uma enguia!
E como fazia isso
Daquele jeito ladino
Nem ele mesmo sabia!
O Mago descia o braço
Sem dó e sem piedade
E quanto mais lhe batia
Descia com mais vontade
De se fazer orgulhoso
E ser das graças do povo
Merecedor de verdade!
Mas quase morre na praia
Quando o sujo malfeitor
Se aproveitou de uma falha
Que o Maguinho descuidou
Meteu a mão numa arma
E quase matou a bala
O cabra que lhe arretou!
O povo ficou irado
Com tamanha covardia
E todo mundo dizia
Que aquilo estava errado
Porém, naquele momento
O que terminaram vendo
Até parecia um causo:
O chefe dos malfeitores
Atirou sem piedade
Querendo tomar as dores
Daquele bando selvagem
Que o Mago tinha mandado
Pro colo quente do Diabo
Pagar por tanta maldade
Mas o Mago bem sabia
Se valer das qualidades
Que quem é da Paraíba
Já tinha desde que nasce:
E dando um rabo-de-arraia
Venceu a primeira bala
Que nem se fosse miragem!
E assim foi desviando
Saltando de bala em bala
Que o cabra ia disparando
enquanto ele se entortava
Dum jeito que parecia
Que inteiro se desfazia
Mas só que não desmanchava!
E logo se retorcia
Descia, depois pulava
Corria e rodopiava
Voltava donde saia
e quando a bala chegava
Fazia que se abaixava
Rodava e depois subia
O corpo era de borracha
As “junta” feita de mola
Não tinha frente nem costa
Pois tudo se confundia
E o Mago assim escapava
Enquanto o tiro cantava
E o cabra não desistia!
Porém, da última bala
Não teve como escapar
Pois foi direto na caixa
“Dos peito”, que quis achar
Zunindo feito um pião
Pertinho do coração
Um canto pra se encostar!
Sem arrimo, condição
Ou alguma serventia
O povo a tudo assistia
“Cum” queixo “em riba” da mão
“Pru mó” dele num cair
Achando que esse era o fim
Do Bruce Lee do Sertão!
Por isso causou espanto
Que o Mago, sem se assustar
O peito foi "cavucando"
Até a bala encontrar
E lhe atirar numa vala
Enquanto o bandido olhava
Sem jeito de acreditar!
O bandido que assombrava
Juntamente com seu bando
Agora é quem tinha a cara
Tomada pelo espanto
E só não chorou na hora
Porque um homem só chora
Na hora em que tá casando!
Sabia que esse inimigo
Não tinha como falhar
Pois era bem protegido
E veio pra devorar
O bando dos sete inteiro
Com fome de justiceiro
Pra nem o rastro deixar!
E como quem já ouvia
O bandido se entregar
O Mago pegou a arma
Que ainda faltava usar:
O bacamarte afamado
Que quem já tinha enfrentado
Jamais viveu pra contar!
E assim varou com tudo
O peito do cramunhão
Usando os sete cartuchos
Que eram pr`essa missão
Fazendo cada balaço
Deixar o chefe varado
Se estrebuchando no chão
Vencido pelo cansaço
Humilhado e sem abrigo
Sabendo que seu reinado
De terror tinha perdido
Notou, enfim, Waldisgleyson
Que só existe um direito
Pro cabra quando é bandido:
Ganhar um laço na goela
Ou o fio dum facão
Que sem esticar conversa
O Mago trouxe na mão
Pra dar um fim na peleja
Cortando sua cabeça
Diante da multidão!
E como nada valia
Esse bruto malfeitor
O povo comemorou
Por sete noites e dias:
Um pra cada desgraçado
Do bando, por ter tomado
No canto que merecia!
DESFECHO
Do jeito que me contaram
Assim mesmo lhes contei
De como foi conquistada
Em uma terra sem lei
Há muito tempo perdida
A paz que tanto queria
Poder gozar outra vez.
Depois do feito bendito
O Maguinho retornou
Pra terra onde se criou
E cuidou desde menino
Mas não sem agradecer
Ao povo e por ele ser
Nas ruas engrandecido.
Podia ter se tornado
Delegado, promotor
Prefeito, vereador
Senador ou deputado
E se quisesse ser santo
Foi dito no Vaticano
Que o Papa tinha assinado!
Lhe deram casa e comida
Diploma sem estudar
Medalha e bolsa família
Pra viver sem trabalhar
Até as quengas vieram
E os fazendeiros trouxeram
As filhas pra ele casar
Podia ter se tornado
Enfim, um cabra famoso
Com gado gordo no pasto
“Mil-réis” até o pescoço
Mas sendo um cabra pacato
Montou em seu bode alado
E despediu-se do povo
O tempo foi prosseguindo,
Passando bem devagar
Até o Maguinho achar
A dona do seu destino:
Uma moça valorosa
Esposa e mãe amorosa
Com quem esquentar seu ninho:
Chamavam Maria Rosa
Essa moça educada
Que pra ser tão amorosa
De berço já foi criada
E todos naquela terra
Diziam não ter donzela
Mais bela e delicada!
Bonifácio "avoador"
Devolveu as suas asas
Ao anjo que lhe emprestou
E também levou as armas
Que nunca ninguém mais viu
Depois que ele partiu
Pra sua santa morada...
Quanto ao santo padroeiro
Do povo mais sofredor
E ao famoso cangaceiro
Que ajudaram o protetor,
Cada um foi pro seu lado
E nunca mais se cruzaram
Depois do que se passou...
O Mago seguiu a vida
Cuidando da criação
Plantando do que podia
Pra manter as “provisão”
Honrando sua família
Que todo ano crescia
Com grande satisfação!
Não foi pra ganhar manchete
Que a vida arriscou
Por isso matou os Sete
Mas nunca se pabulou
E sim pra salvar o Norte
Que, mesmo encarando a morte,
Dos inimigos livrou.
Um dia morreu tranquilo
Deixando filhos e netos
Herói, porém esquecido
Igual ao bando perverso
Que nunca foi derrotado
Até ser desafiado
Por esse cabra correto!
Por isso, sem aumentar
Tão pouco diminuir
Contando só o que ouvi
(Pois nada quis inventar...)
Pro povo não se esquecer
Não ia poder viver
Sem essa história contar:
De um Mago considerado
Que cumpriu com seu papel
E pra ser recompensado
Além de um lugar no Céu
Depois de tanto fazer
Não tinha como não ser
Lembrado neste cordel!
FIM